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Digital Humanities – provocações

No encontro passado, os pesquisadores do Lab404 deram continuidade à leitura e discussão do livro Digital Humanities. Editada pelo MIT Press, trata-se de uma obra coletiva de Anne Burdick, Johanna Drucker, Peter Lunenfeld, Todd Presner e Jeffrey Schnapp.

O capítulo 4, de título “Provocations”, traz justamente provocações e questionamentos acerca do paradigma das Digital Humanities. Logo no início, um deles: a prática das Digital Humanities não pode estar restrita a “fazer as humanidades de forma digital”. Deve-se, segundos os autores, manter o caráter crítico e experimental das Digital Humanities mesmo após naturalização das ferramentas digitais.

Há, por exemplo, a necessidade das Humanas criarem agendas específicas para a prática computacional. As linguagens de programação já começaram a ser usadas, mas é importante criar as próprias ferramentas, com visões e perspectivas aliadas às humanidades.

Outra discussão trazida pelos autores é em relação ao conceito de autoria em Digital Humanities. Segundo eles, ele estaria se transformando em um modelo mais fluido, interativo e compartilhado. No entanto, os traços autorais não estão desaparecendo, e, na verdade, tornam-se mais fáceis de serem identificados.

Além desses pontos há, ainda, a questão do Big Data e do processamento de dados. As práticas de coleta, processamento e preservação tiveram grande crescimento. O volume de dados passa a ser cada vez maior, criando a necessidade, portanto, de novas formas de arquivamento, através de metadados automatizados, tags etc. Na era digital, o processo de escolha para conservação e preservação é democratizado, tendo as Digital Humanities um papel central na curadoria de informações.

Da forma semelhante, no entanto, a prática de escolher o que apagar e esquecer também aparece  como uma função importante. Trata-se de uma discussão bastante pertinente – e muitas vezes deixada de lado. Em meios digitais, muitas informações são gravadas e processadas, fazendo com que o esquecimento (às vezes saudável em relações pessoais, por exemplo) seja dificultado. Além disso, há a questão em relação ao uso e tempo em que certos dados ficam disponíveis – e quais devem ou não ser excluídos após algum tempo determinado.

Com as Digital Humanities, novas habilidades e especialidades têm ganhado importância na área de humanas, como design, ciência da computação, curadoria, prática em mídia etc. Há, ainda, uma tendência de formação de profissionais, mesmo em nível de pós-graduação, voltados também para habilidades práticas. Os autores, assim, reiteram a importância de aliar teoria e prática, como, por exemplo, na possibilidade de utilização de ferramentas técnicas em pesquisas.

Para finalizar o capítulo e já direcionar para uma conclusão do livro, os autores colocam as Digital Humanities como uma contínua construção, ao mesmo tempo em que é uma promessa para o futuro. Assim, abrem-se questionamentos sobre o futuro, pensando se as Digital Humanities serão capazes de salvar as formas tradicionais de discurso das humanidades, as quais, segundo eles, estão em decadência.