Resenhas

Resenha de Mobilities de John Urry, capítulos 10 a 12

Resenha por José Carlos Ribeiro

Capítulo 10 – NETWORKS (REDES)

A base da discussão deste capítulo é a idéia de complexidade, em especial como as redes estão distribuídas através dos espaços e em grandes distâncias. Para isto, o autor busca referências na literatura, efetuando diálogos com diversos autores (Watts, Barabasi, Buchanan, Capra), centrando a análise em três tópicos: (a) small worlds; (b) conhecimento; (c) redes sociais. Com essa estratégia de abordagem, o autor chama a atenção de que os pesquisadores estão tendendo a empregar conceitos matemáticos para entender as dinâmicas sociais contemporâneas, as quais seguiriam uma nova morfologia, descentralizada, produzindo resultados, experiências e culturas sob uma nova perspectiva. Aponta também que a “sociedade em rede” é alimentada por sistemas micro-eletrônicos e nas TICs e que esta particularidade estaria provocando uma mudança em escala global que se inicia por volta de 1990.

(1) Tópico “Small worlds” – Neste tópico, o autor inicia a discussão apontando a característica dessa configuração ser feita através da existência de sistemas dinâmicos que evoluem, mudam e se auto-constituem através do tempo (Watts), bem como de ser feita por uma cadeia de poucos intermediários. Faz também uma articulação coma teoria dos 6 passo (Milgram) e com a idéia dos laços fortes e laços fracos (Granovetter). Indica e discute alguns experimentos mais atuais que teriam uma conexão mais direta com o fenômeno da web: experimentos de Buchanam – 4 a 10 degraus de separação de um ponto a outro; a distribuição aleatória (small worlds – laços fracos e fortes); a distribuição via lei de potência (presença de nós excepcionalmente recheados de conexões – Google, Yahho); a rede aristocrática (o mais conectado fica cada vez mais e o menos fica cada vez menos); presença de um caráter auto-poiético de sistemas dinâmicos. Ainda dentro deste tópico, o autor ressalta a importância da infra-estrutura técnica na configuração das redes potencializando o movimento e a mobilidade através das distâncias; menciona algumas características dos meetings (reuniões), em especial o fato de que essas agregações sociais terem um custo acentuado em termos de tempo, dinheiro e esforço, mas que pode resultar em ampliação e reforçamento da rede e no prazer da co-presença. Por fim, acentua a idéia de que muito da literatura das redes sociais presume que a informação é o recurso chave na criação e na extensão de conexões, mas observa de que existem mais componentes, dentre os quais a informação é apenas um menor elemento no conhecimento dos outros.

2) Tópico “Conhecimento”Neste tópico, Urry propõe uma classificação de aglomerado de redes: a) primeiro – existe uma linha ou rede de cadeia, onde muitos nós estão espalhados de forma mais ou menos linear (mensagem vai de um nó para outro); b) segundo – há centros de redes nós concentrados (o que faz com que a proximidade do centro seja vantajosa); c) existemcanaisouredesdistribuiçãoem que as comunicaçõesdeve ocorrer simultaneamenteem mais oumenostodas asdireções. Nesta parte,o autor chama a atenção de dois aspectos: (a) comunicações (mídia) estão reordenando a natureza do “conhecimento de pessoas” através da expanção dos laços fracos; (b) as redes de relações pessoais parecem seguir o padrão da rede aristocrática, neste caso, não são randômicas mas sim altamente estruturadas; e observa – de maneira critica – que a literatura dos small worlds não atenta para este fato.

(3) Tópico Redes Sociais – O autor inicia fazendo um resgate histórico, destacando que na primeira metade do século XX as famílias se estruturavam no modelo das “pequenas caixas” (co-presença informal) e que com o passar do tempo, houve mudanças, em especial a partir da gradativa implementação das tecnologias comunicacionais. Ressalta inclusive que alguns autores apontam isto como um problema: a perda ou decréscimo da co-presença (Putnam, por exemplo). Observa que a distância cada vez maior da “família distribuída” gera algumas consequências, sendo as mais significativas: (a) o planejamento e a necessidade de encontros periódicos para “estar em contato”; (b) a percepção de que os lugares estão sendo reconfigurados para possibilitar a vivência das três modalidades (lugar de trabalho, de residência e de lazer); (c) as redes serem estabelecidas a partir da idéia de projeto (diversas competências agregadas, diversas pessoas, diversas culturas); (d) presença de famílias não mais nucleares (divócios, pais solteiros, habitação conjunta etc.); (e) existência de famílias fragmentadas não apenas socialmente mas também espacialmente. Este conjunto de características formataria a presença de comunidades transnacionais – conectividade transnacional (mais viagens, mais usos de dispositivos comunicacionais – telefones, celulares, internet). Neste sentido, o uso do network capital ajudaria na sustentação de muitas conexões à distância.

Capítulo 11 – MEETINGS (ENCONTROS)

Neste capítulo, Urry ressalta a importância dos encontros intermitentes (formais e informais) na (re)composição das dinâmicas das redes, através das co-presenças de tempos em tempos. Destaca que esses encontros se mostram em um modelo aristocrático (ao invés de modelo igualitário), e que requerem – na maioria das vezes – de deslocamentos físicos (de alguns ou de todos). Aponta para o “ônus da mobilidade” e observa que para se continuar em uma dada rede existemobrigaçõespara viajar, para se encontrareconversar. Ressalta também que é nesses encontrosé que são demarcadas esferas de poder, status, bens etc.

(1) Tópico “por que encontrar ?” – O autor comenta sobre os (cinco) processos que engedram movimentos intermitentes e encontros co-presenciais; reforça a idéia de que os lugares são centrais para a rede da vida social; discute a experiência da co-presença (face-to-face) como sendo feita no modelo “face-to-place”.

(2) Tópico “face-to-face” – Urry aponta as características das relações face-a-face, em especial resgatando algumas ideias de Simmel (a experiência do olhar como a mais completa reciprocidade entre pessoas) e de Goffman (atenção, confiança em relação ao outro). Discorre sobre a importância da ordem interacional (troca de turnos da fala, leitura da comunicação não verbal, regulação dos fluxos da fala, gerenciamento da impressão para os outros etc.). Destaca duas características principais: riqueza do fluxo das informações entre os participantes e o feedback contínuo entre eles.

(3) Tópico “encontros no trabalho” – Neste tópico, o autor discute a necessidade de vários encontros agendados e não agendados (tempo, formalidade e representação) e a proliferação de inter-espaços (bares, cafés, clubes de lazer, restaurantes, salões de aeroportos, hotéis), onde haveria a presença de circulação rápida, de fluxo contínuo, lugares que seriviriam para se reforçar os laços fracos (network capital)

(4) Tópico “encontros de amigos e de familiares” – Aqui, o autor resgata a discussão sobre as famílias distribuídas, ampliadas, não mais nucleares (divócios, pais solteiros, habitação conjunta etc.), o caráter fragmentário e reprodutivo que sustenta as relações familiares, os “laços fortes” entre os participantes. Explora estas questões através da análise de vários exemplos.

(5) Tópico “encontros em movimento” – Neste ponto, Urry examina a relação entre tempo gasto em viagens e a ideia de improdutividade e desperdício, através da análise de atividades efetuadas durante a viagem,o uso de dispositivos tecnológicos móveis e a ocorrência de possíveis novas rotinas sociais construídas nos inter-espaços.

Capítulo 12 – PLACES (LUGARES)

Urry centra neste capítulo a discussão sobre o conceito de lugares em suas diversas perspectivas. Com este intuito, ressalta a presença de mudança de práticas sociais de land (física, utilização funcional) para landscape (aparência, sentido visual), isto é, a construção da cena turística, lugar para ser contemplado. Observa que neste processo, novas tecnologias do olhar foram produzidas e circuladas (livro guia, cartão postal), os lugares foram gradativamente sendo “kodakizados”, transformando os lugares em locais que devem serconhecidos, comparados,avaliados. A presença da espetacularização dos lugares para que seja possível “entrar” na ordem global, para de alguma forma serem reconhecidos. Discute também a adoção de critérios e procedimentos que capacitam e monitoram os lugares visando desenvolvê-los em seu potencial dentro dos padrões de viagens globais (através de empresas de consultoria).