Resenhas

Resenha de Shaping Technology – Introdução e capítulo 1

BIJKER, Wiebe E. & LAW, John. Shaping Technology, Building Society. MIT. 1992

Introdução Geral

  • Os autores começam o texto descrevendo uma cena em que dois colaboradores da obra estavam dirigindo num rodovia interestadual na Califórnia. As únicas preocupações dos motoristas era com o tráfego e com a rota que desejavam pegar. Eles cruzariam uma ponte próxima de São Francisco logo antes do terremoto de 1989. Naquele momento, pouco lhes importava a história da rodovia, sua concepção e seu modo de construção.

  • Muitas pessoas morreriam decorrente do colapso da ponte naquele dia. 1

  • Na maior parte do tempo, nós não costumamos nos perguntar sobre nossas tecnologias. Se estão funcionando de forma adequada, não é preciso investigar o seu funcionamento. Ainda assim, quando nossas tecnologias não funcionam adequadamente, é comum chamarmos um técnico para resolver o problema.

  • A ausência de curiosidade faz sentido. A condução da vida diária seria muito mais difícil se nos questionássemos incessantemente sobre as tecnologias que nos cercam.

  • Na maior parte do tempo, a relação entre custos de um lado, e os benefícios resultantes de outro lado, estão muito escondidas. Os custos da tecnologia ficam mais óvbios em momentos de fracasso catastrófico.

  • No caso da rodovia em SF, ficou claro que a forma como as decisões de um conjunto de engenheiros encorporavam ou espelhavam um conjunto de realidades políticas, economias e profissionais. Se é verdade que nós temos os políticos que merecemos, tb é verdade que nós temos as tecnologias que merecemos.

  • Todas as tecnologias são formadas por, espelham as decisões que fazem a sociedade. A ideia de uma tecnologia pura não faz sentido. 3

  • Tecnologias poderiam ter sido diferentes. Tecnologias não se desenvolvem sob o ímpeto de uma lógica científica ou technológica.

  • Que suposições os engenheiros, os empresários, os políticos, sobre os tipos de papéis que as pessoas – ou as máquinas – devem assumir nesse novo mundo que eles pretendem projetar? E como os usuários reformatam essas tecnologias.

 

Tecnologia, História e Ciência Social

  • Entender os processos que formam as nossas tecnologias tem a ver com entender a maneira como vivemos e organizamos nossa sociedade. 4

  • Nós falamos de tecnologia como se fosse algo aparte, algo que pode ser subvertido por aspectos políticos e econômicos. É preciso abrir mão da inércia linguística. Não há maneira de distinguir entre o mundo dos engenheiros e o mundo social.

  • A palavra social também apresenta problemas análogos. O que queremos dizer quando falamos do social? Nós falamos do sociológico, mas o social não é exclusivamente sociológico, é tb político, econômico, psicológico e histórico. Aqui os problemas de terminologia se apresentam como problemas relacionados com a organização disciplinar do conhecimento. Mas como podemos encontrar formas multidisciplinares para falar de heterogeneidade; falar ao mesmo tempo de relações técnicas e sociais de forma simétrica.

  • A história social da tecnologia representa uma tentativa de entender a heterogeneidade tecnológica de forma substancial e baseada em estudos empíricos.5

  • Os historiadores costumam seguir os cientistas e os engenheiros onde quer que eles vão.6

  • Essa é a maior força da história social da tecnologia – a sua propensão a considerar o que quer que pareça importante, de acordo com as evidências.

  • O historiadores sociais da tecnologia são muito bons em descrever os processos confusos e heterogêneos que dirigem a mudança tecnológica, mas não tão bom em detectar alguns regularidades que acompanham estes processos.

  • É possível tirar conclusões de estudos de história social? Há possibilidade de generaliazação?

  • Encaramos uma escolha entre seguir a bagunçada estória aonde quer que ela nos leve, e a tentativa de extrair, desenvolver, impor modelos mais generalistas. 7

  • Portanto, um modelo ou uma teoria é um tipo de estabelecimento de prioridades: se apoia numa aposta que para alguns propósitos, algums fenômenos são mais importantes que outros.

Consensos: Heterogeneidade e contingências

  • Tecnologias não são puramente tecnológicas. Artefatos incorporam decisões e compromissos. 7

  • Tecnologias que estão no processo de concepção, ao menos em princípio, podem assumir diferentes, formas, desenhos e tamanhos.8

  • Devemos desconfiar das noções de trajetórias ou paradigmas tecnológicos. Elas estão submetidas a contingências, no processo no qual são formadas e reformadas. Sendo assim, como tecnologias assumem a forma que assumem?

  • Explicações reducionistas que apelam para uma lógica interna da tecnologia são evitadas. O social e o economico, assim como o tecnológico, são heterogêneos e emergentes.

  • Tecnologias nascem do conflito, da diferença e da resistência. Todos os estudos de caso descrevem controvérsias, desentendimentos e dificuldades. A maioria dos artigos deste volume estão preocupados em mapear as estratégias usadas por aqueles envolvidos nas disputas, nos desentendimentos e nas resistências. 9

  • Tecnologias estão implicadas nas estratégias dos protoganistas. Uma tecnologias se estabiliza se, e somente se, as relações heterogêneas nas quais estão implicadas, e das quais são parte, são estabilizadas. Um tipo de acomodação. 10

  • Finalmente, os colaboradores assumem que tanto as consequencias quanto as estratégias devem ser tratados como um fenônemo emergente. Independentemente do que os idealizadores do sistema desejam, o que realmente acontece depende das estratégias de um conjunto amplo de outros atores.

 

Conclusão

  • Como é óbvio,tecnologia é ubícua. Ela molda nossa conduta no trabalho e em casa.11

  • A tecnologia nasce das relações sociais, econômicas e políticas que já estão colocadas. Um produto da estrutura de oportunidades e constrangimentos existentes, ela extende, molda, retrabalha a mesma estrutura de forma imprevisível.

  • O estudo da tecnologia é fragmentado. Nos últimos cinco anos temos visto o aumento de um novo corpo de trabalho de historiadores, sociólogos e antropólogos que partem da noção que mudança social e tecnologica vêem juntas, e se quisermos entender cada uma delas, devemos entender ambas.

 

Cap. 1 – A Vida e Morte de uma Aeronave: Uma análise Ator-Rede da mudança tecnológica.

 

Conclusão

  • O sucesso e o formato de um projeto, o TSR.2, dependeu crucialmente na criação de duas redes e na troca de intermediários entre essas duas redes.

  • Havia vazamentos contínuos entre a rede local e a global no caso do projetos TSR.2. Atores da rede global eram capazes de influenciar os da rede local, enquanto estes eram capazes de driblar a gerência do projeto e se consultar diretamente com atores da rede global.

  • Essa experíência ilustra a flexibilidade interpretativa dos objetos – a maneira em que eles significam-se de maneiras diferentes para grupos diferentes.

  • A experiência também representa a formatação social da tecnologia – a maneira em que os objetos são moldados por suas circunstâncias organizacionais. 42

  • “Nós descrevemos a forma como o TSR.2 mudou de forma, literalmente e metaforicamente, ao longo do curso do seu desenvolvimento, e a relação entre as mudanças e os compromissos que cresceram entre os atores humanos e não-humanos relevantes. 42

  • A RAF queria uma aeronave de combate, mas o Ministério da Defesa tinha uma visão do futuro que não deixava espaço nem para um bombardeiro estratégico nem um fighter.  Em contraste, o Tesouro estava preocupada com a economia do setor militar. 43

  • O desenho da asa foi o caminho encontrado para superar o dilema da decolagem com Mach 2.5 de grande altitude.

  • A primeira aeronave colocava um conjunto de problemas que podiam ser solucionados de diversas formas. A segunda aeronave representava um conjunto particular de soluções a esses problemas – compromissos negociados por outros diferente autores.

  • Se os elementos que formam as redes local e global são heterogêneas, o grau em que elas pode ser mobilizadas é variável e reversível, e em última instância só podem ser definidas empiricamente. 47

  • Nós concluímos com o pensamento que as trajetorias de projetos tecnologicos são contigentes e interativos. 49

  • Nós acreditamos que o caso do TSR.2 sugeri que um passo estratégico crucial é criar a distinção entre dentro e fora, entre backstage e front stage. 51

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